Angola avança com autorregulação ética apesar das dificuldades

26/05/2025 06:58

O coordenador do Projeto Atlântico, Rogério Christofoletti, passou uma semana em Angola para a missão de trabalho prevista no projeto “Indução de Sistemas de Autorregulação Deontológica Jornalística em Espaços Afro-Iberoamericanos”. As atividades aconteceram de 18 a 24 de maio, com visitas e conferências na Universidade Jean Piaget e no Centro de Formação de Jornalistas (Cefojor), e minicurso no Media Institute of Southern África (MISA). Além disso, foram entrevistadas lideranças de organizações locais. As agendas foram cumpridas nas cidades de Luanda, Viana, Talatona e Quilamba-Quiaxi, contando com a direção logística do jornalista e professor André Mussamo, coordenador do Projeto Atlântico em Angola.

“Nesta missão, pudemos entender melhor como os jornalistas angolanos se organizam como classe trabalhadora e como funciona sua autorregulação deontológica. Em pouco tempo de história, são nítidos os avanços, apesar das muitas dificuldades de um país que passou quase trinta anos em guerra civil”, afirma Christofoletti. O país completa 50 anos de independência este ano e foi muito afetado por conflitos sangrentos internos entre 1975 e 2002. Nas últimas décadas, a economia tenta se modernizar à base do petróleo abundante, diamantes e de recursos minerais, mas a distribuição de renda é muito desigual, produzindo um cenário de miséria absoluta para a maior parte da população. A população reclama da corrupção nos governos e empresas. Os salários são muito baixos e jornalistas em início de carreira, por exemplo, chegam a ganhar 60 dólares por mês. “Essa condição leva muitos profissionais a acumularem outros empregos para ter condições mínimas de sobrevivência”, acrescenta André Mussamo, que também é presidente do Misa-Angola.

O sistema político mantém uma democracia limitada, e a participação popular é quase restrita a períodos eleitorais. Jornalistas e ativistas se queixam de falta de liberdade de imprensa, de censura, pressões e perseguições. Mesmo assim, conseguem – com muitas dificuldades – manterem organizações que lutam por direitos trabalhistas, por organização profissional – como a emissão de carteiras de jornalistas – e pelo cumprimento de padrões éticos. “Nada é fácil aqui, mas precisamos insistir”, comenta Luisa Rogério, presidente da Comissão da Carteira e Ética. “Dependemos, sobretudo, do apoio de organizações internacionais”, conta Milena Costa, coordenadora do Fórum das Mulheres Jornalistas pela Igualdade de Gênero. “Temos conseguido construir um sistema deontológico, mas ainda precisamos atrair mais colegas e fazer com que eles entendam que só a partir da caneta e da fala, e da consciência de classe, teremos um jornalismo melhor”, sintetiza Pedro Miguel, coordenador do Sindicato dos Jornalistas Angolanos.

Em quase todos os casos, as lideranças e suas equipes enxutas trabalham voluntariamente em prédios degradados ou com pouca infraestrutura. No último levantamento da Repórteres Sem Fronteiras sobre liberdade de imprensa, Angola ficou em 100º lugar, uma posição melhor que a de 2024, mas ainda pior que seus vizinhos Zâmbia (82º) e Namíbia (28º). “As condições desses países são muito diferentes das nossas, mas sabemos que temos muito a melhorar”, comenta Luisa Rogério. “Somos otimistas, e é por isso que estamos aqui. Mas é preciso avançarmos muito ainda”, opina Pedro Miguel.

O Projeto Atlântico e a missão em Angola são financiados pelo CNPq.

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Confira registros da missão:

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Projeto Atlântico cumpre missão em Angola

16/05/2025 13:45

O projeto “Indução de sistemas deontológicos jornalísticos em espaços afro-iberoamericanos (Projeto Atlântico)” desembarca em Luanda (Angola) na segunda metade deste mês de maio. Durante uma semana, o coordenador da pesquisa, Rogério Christofoletti, vai entrevistar jornalistas, pesquisadores e autoridades para colher subsídios para o projeto. Também estão previstas visitas técnicas a redações dos meios de comunicação e diálogos no Sindicato dos Jornalistas Angolanos, na Comissão da Carteira e Ética, no Centro de Formação de Jornalistas (Cefojor), na Universidade Jean Piaget de Angola, no Misa-Angola e no Fórum de Mulheres Jornalistas para a Igualdade de Gênero.

O Projeto Atlântico aborda os contextos da ética jornalística em seis países de três continentes, entre os quais Angola. A missão conta com direção técnica e logística de André Mussamo, consultor no projeto, professor da Universidade Jean Piaget e coordenador do Misa-Angola. “A realidade angolana é estratégica para compreendermos o jornalismo praticado na África num país lusófono”, comenta Christofoletti. “Aspectos como crescimento econômico, consolidação da democracia e busca por justiça social também afetam o trabalho ético dos jornalistas”.

Além de Brasil e Angola, fazem parte do projeto pesquisadoras e pesquisadores de Portugal, Espanha, Cabo Verde e Moçambique. O CNPq financia a pesquisa.

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Pesquisadora do Projeto Atlântico chega a Portugal

11/01/2025 12:10

Mais uma pesquisadora está na Península Ibérica para dar sequência aos trabalhos do Projeto Atlântico. A doutoranda Denise Becker desembarcou em Coimbra (Portugal) para uma estância de oito meses de doutorado-sanduíche sob co-orientação do professor Carlos Camponez. Durante o período europeu, Denise vai colher dados, fazer visitas técnicas, participar de eventos e produzir textos e conteúdos relacionados à pesquisa.

Denise se soma a outros dois membros da equipe que atravessaram o oceano para desenvolver o projeto e estão em atividades na Espanha: Raphaelle Batista, que está em Sevilha, e Rogério Christofoletti, sediado em Valência.

O Projeto Atlântico tem como objetivo estudar os contextos da ética jornalística em seis países (Brasil, Portugal, Espanha, Cabo Verde, Angola e Moçambique) e contribuir com a capacitação e desenvolvimento de jornalistas nesse campo, buscando aprimorar as práticas desses profissionais. Participam do projeto dez universidades de seis países em três continente. O CNPq financia o Projeto Atlântico com verbas de custeio e bolsas de doutorado e pós-doutorado.

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CNPq financia projeto internacional sobre ética jornalística

01/03/2024 16:36

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aprovou o projeto “Indução de Sistemas de Autorregulação Deontológica Jornalística em Espaços Afro-Iberoamericanos” e vai financiar parcialmente a pesquisa. Os recursos estão previstos na Chamada MCTI/CNPq nº 14/2023, edital de apoio a projetos de reconhecida cooperação internacional, que destinou R$ 170 milhões a mais de 700 iniciativas.

Lançada em julho de 2023, a chamada objetiva fomentar projetos internacionais de pesquisa concedendo bolsas no exterior e verbas para custeio, e estimular a cooperação entre países latino-americanos, caribenhos e africanos. O projeto será desenvolvido por uma equipe com pesquisadores de seis países – Angola, Brasil, Cabo Verde, Espanha, Moçambique e Portugal – de nove universidades. A proposta foi uma das 429 contempladas na principal linha do edital.

De acordo com o coordenador da pesquisa, Rogério Christofoletti, o projeto quer mapear e compreender valores e práticas éticas do jornalismo praticado nos países cobertos pela pesquisa. Com isso, vai recorrer a várias técnicas de coleta de dados para compor acervos de códigos deontológicos, leis e instrumentos que contribuem para a formação dos profissionais da informação em três continentes. Ao final, será produzida uma série de podcasts e materiais formativos, e ministradas oficinas de capacitação ética de jornalistas.

“Teremos 24 meses para desenvolver a pesquisa, e vamos contar com três bolsas do CNPq, sendo duas de doutorado sanduíche e uma de pós-doutorado no exterior”, comenta Christofoletti, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Essas condições nos permitirão aprofundar as redes de cooperação que já temos com os países lusófonos da África e os da península ibérica”, conclui.

Projeto Atlântico é o nome fantasia da iniciativa e faz homenagem ao oceano que une e aproxima América, África e Europa, continentes dos países participantes.

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