O coordenador do Projeto Atlântico, Rogério Christofoletti, passou uma semana em Angola para a missão de trabalho prevista no projeto “Indução de Sistemas de Autorregulação Deontológica Jornalística em Espaços Afro-Iberoamericanos”. As atividades aconteceram de 18 a 24 de maio, com visitas e conferências na Universidade Jean Piaget e no Centro de Formação de Jornalistas (Cefojor), e minicurso no Media Institute of Southern África (MISA). Além disso, foram entrevistadas lideranças de organizações locais. As agendas foram cumpridas nas cidades de Luanda, Viana, Talatona e Quilamba-Quiaxi, contando com a direção logística do jornalista e professor André Mussamo, coordenador do Projeto Atlântico em Angola.
“Nesta missão, pudemos entender melhor como os jornalistas angolanos se organizam como classe trabalhadora e como funciona sua autorregulação deontológica. Em pouco tempo de história, são nítidos os avanços, apesar das muitas dificuldades de um país que passou quase trinta anos em guerra civil”, afirma Christofoletti. O país completa 50 anos de independência este ano e foi muito afetado por conflitos sangrentos internos entre 1975 e 2002. Nas últimas décadas, a economia tenta se modernizar à base do petróleo abundante, diamantes e de recursos minerais, mas a distribuição de renda é muito desigual, produzindo um cenário de miséria absoluta para a maior parte da população. A população reclama da corrupção nos governos e empresas. Os salários são muito baixos e jornalistas em início de carreira, por exemplo, chegam a ganhar 60 dólares por mês. “Essa condição leva muitos profissionais a acumularem outros empregos para ter condições mínimas de sobrevivência”, acrescenta André Mussamo, que também é presidente do Misa-Angola.
O sistema político mantém uma democracia limitada, e a participação popular é quase restrita a períodos eleitorais. Jornalistas e ativistas se queixam de falta de liberdade de imprensa, de censura, pressões e perseguições. Mesmo assim, conseguem – com muitas dificuldades – manterem organizações que lutam por direitos trabalhistas, por organização profissional – como a emissão de carteiras de jornalistas – e pelo cumprimento de padrões éticos. “Nada é fácil aqui, mas precisamos insistir”, comenta Luisa Rogério, presidente da Comissão da Carteira e Ética. “Dependemos, sobretudo, do apoio de organizações internacionais”, conta Milena Costa, coordenadora do Fórum das Mulheres Jornalistas pela Igualdade de Gênero. “Temos conseguido construir um sistema deontológico, mas ainda precisamos atrair mais colegas e fazer com que eles entendam que só a partir da caneta e da fala, e da consciência de classe, teremos um jornalismo melhor”, sintetiza Pedro Miguel, coordenador do Sindicato dos Jornalistas Angolanos.
Em quase todos os casos, as lideranças e suas equipes enxutas trabalham voluntariamente em prédios degradados ou com pouca infraestrutura. No último levantamento da Repórteres Sem Fronteiras sobre liberdade de imprensa, Angola ficou em 100º lugar, uma posição melhor que a de 2024, mas ainda pior que seus vizinhos Zâmbia (82º) e Namíbia (28º). “As condições desses países são muito diferentes das nossas, mas sabemos que temos muito a melhorar”, comenta Luisa Rogério. “Somos otimistas, e é por isso que estamos aqui. Mas é preciso avançarmos muito ainda”, opina Pedro Miguel.
O Projeto Atlântico e a missão em Angola são financiados pelo CNPq.
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Confira registros da missão:
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Visita à Comissão da Carteira e Ética. A coordenadora Luisa Rogério, ao centro.
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Miqueias de Sousa “Machangongo” e Luisa Rogério, da Comissão da Carteira e Ética
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Milena Costa, do Fórum de Mulheres Jornalistas pela Igualdade de Gênero
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Visita ao Sindicato dos Jornalistas Angolanos. O coordenador, Pedro Miguel, ao centro.
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Sindicalista Pedro Miguel explica condições dos jornalistas angolanos
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Conferência do Projeto Atlântico na Universidade Jean Piaget de Angola
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Estudantes da Universidade Jean Piaget de Angola, após a conferência do Projeto Atlântico
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Christofoletti em conferência na Universidade Jean Piaget
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Conferência reuniu estudantes e professores
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Christofoletti participa de programa da rádio Ecclesia
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André Mussamo, presidente do MIsa-Angola
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Formação com a equipe do Misa-Angola
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Visita ao Centro de Formação de Jornalistas (Cefojor)